Já vai algum tempo desde a última vez que escrevi aqui no tasco, a repentina mudança de pais e de continente, o fuso horário, o calor, sei lá... posso dar um milhão de razões para ter ficado assim tanto tempo um pouco que desligado daqui, mas sempre tive a ideia, principalmente por esta mudança para o Brasil, de um dia escrever algo sobre a nova música que ia conhecendo aqui , e mais especificamente no Recife, sendo que esta cidade do Nordeste Brasileiro tem um dos mais importantes fenómenos musicais do Brasil e já deu ao mundo bandas como Nação Zumbi. Apesar de já ter visto um milhão de concertos, uns de coisas muito boas e outras de não tão boas assim, nunca me senti verdadeiramente entusiasmado ( pode não ser a palavra certa, mas não me estou a lembrar de mais nenhuma ) para escrever algo sobre o que estava a ver ( preguiça também pode ser uma das razões ), até hoje.
Esse sentimento mudou com o festival No Ar Coquetel Molotov, que acontece ao longo do mês de Setembro, durante vários dias do mês, com concertos gratuitos de várias bandas principalmente do Brasil, workshops e conferencias, e tem o seu fim com dois dias de festival no teatro da UFPE com cerca de 8/9 por dia, sendo estas do Brasil, mas também de outros pontos do globo como os EUA, França ou Suécia. Uma das coisas que logo me fez sentir identificado com este festival, é que a política e ideologia é bastante semelhante à do MdF, juntar no mesmo espaço, bandas nacionais e internacionais que em comum tem apenas e "só" a boa música que fazem.
Então nesta sexta feira lá fui eu para o teatro da UFPE, cheguei atrasado e logo ai perdi as duas primeiras bandas Voyeur (PE) e Massarock (SP), das quais nunca vi nenhum concerto, pelo que fiquei um pouco fodido. Em seguida tocaram as Taxi Taxi, duas meninas da Suécia que deram um lindo concerto de fim de tarde, voz, guitarra e teclas chagaram para sair da sala mais pequena do teatro com um sorriso na cara. Depois o que aconteceu foi um festão, Bemba Trio (BA) da Baia, deram um concerto às 8 da noite que pós toda a gente a dançar como se fossem 4 da manha, com a mistura de ritmos de todos os pontos do Brasil, e de outros lugares do mundo também, mas com aquele toque da Baia, ganharam de imediato o publico e a minha vontade de os ver novamente.
Depois de cigarros, cervejas Skol ( que proporcionam infindáveis idas ao "banheiro") ,fatias manhosas de piza, e um ou outro "baseado" abriu o palco principal do Festival com Zé Cafofinho e suas Correntes (PE). Devido aos mesmos cigarros e outras coisas, e também uma conversa que estava a saber muito bem, só vi cerca de 60 segundos do concerto, o público parecia super rendido a este músico que mistura ritmos Pernambucanos com outros sons, mas como não vi não me vou por aqui a inventar acerca desta banda, espero ver numa outra oportunidade. Depos do Zé veio Soko, banda francesa que não me aqueceu nem arrefeceu, bases no folk, e música bastante directa, foi bom. O que veio em seguida foi uma das principais atracções da noite, Mike Snow, directamente da Suécia trouxeram o seu pop dançavel, com melodias bonitas e ritmos para abanar a bundinha. Começaram muito bem, cheios de vida e energia, mas ao longo do concerto, ficou a sensação que é uma banda que resulta bastante melhor num espirito mais "club" que numa sala de teatro, mas apesar disso valeu bastante a pena.
Por último veio Otto, filho da terra, um dos mais destacados e respeitados músicos da nova música brasileira, primeiro percussionista dos Nação Zumbi, fez também parte dos Mundo Livre S/A, duas das bandas mais respeitadas da cena Recifence. Já conhecia algumas coisas dele, tem um bom último álbum, música nas novelas e tal, mas confesso que apesar de querer ver o concerto as expectativas não eram assim tão elevadas, e ainda bem, o que este senhor fez durante cerca de 1:30 foi espalhar amor e sinceridade no teatro da UFPE. Se é rock, se é pop isso acho que com Otto perde todo o sentido, Otto é Brasil, e também bastante importante é ele próprio.
Das coisas mais verdadeiras que vi nos últimos tempos, fiquei completamente rendido, este senhor merece o melhor. Outra coisa impressionante neste concerto foi o público, toda a gente conhece a fa,a do público brasileiro, de dar tudo, de saber todas as letras e fazer questão de as cantar bem alto, noutras ocasiões isso já me irritou bastante aqui no brasil, ir a um concerto para ver uma banda, e acabar a pagar para ver o público a cantar. Mas ontem, talvez por essa entrega tão foda, arrepiou. O amor esteve naquela sala como poucas vezes senti noutros concertos.
Hoje continua o Festival com os Dinossaur Junior entre outros, amanha conto como foi.
Beijos